UMA RIQUEZA ESCONDIDA E TRANCADA
Cercado por plantas e árvores, escondido no meio de casas no bairro de Piedade, próximo ao Shopping Guararapes, onde circulam vários transportes alternativos, ambulantes e taxistas que não sabem informar com clareza onde seria o Instituto Lula Cardoso Ayres. Mostrando assim a falta de interesse das pessoas que moram por lá com relação a esse lugar, onde guarda um enorme acervo histórico e valioso que compõe sua estrutura de obras de grandes artistas pernambucanos, uma biblioteca especializada em cinemática de causar inveja a grandes cineastas e estudantes da área. É na Rua Hermínio Alves Queiroz que pode-se encontrar este lugar de difícil acesso, por possuir ruas sem calçamento. O instituto encontra-se com suas portas fechadas e ainda não dá para ter ideia de quando irá reabrir.
Do lado de fora, pode-se observar, no meio das plantas, letreiros com o nome do instituto e, embaixo, as informações sobre o que continha dentro do ambiente: Loja, Biblioteca, Museu, Galeria de arte, cinema e escola de artes. Todos esses serviços de conhecimento eram gratuitos e nas sextas-feiras eram exibidas as programações de áudio visual, expostas por Lula Cardoso Filho. Nos corredores da casa são expostas fotos do Lula Cardoso Filho e seus 3 filhos, sendo eles duas moças e um rapaz. O local, apesar de ser antigo, é mantido intacto após 22 anos do falecimento de Lula Cardoso Ayres. A ideia do lugar foi poder montar um espaço com duas mil obras dele onde pudesse ser mostrado ao público.
Logo após sua morte em 1987, a imprensa já havia levantado grandes hipóteses sobre uma provável criação de um acervo como este, porém só em 1990 que a ideia foi concretizada e passou a ser divulgada para curiosos e estudiosos sobre o assunto. Contudo, só em 1993 foi aberto ao público para que todos pudessem conhecer o talento do programador visual e artista plástico desde seus 11 anos. Um de seus primeiros trabalhos catalogados foi um nanquim-aquarela feito em 1921, na simples cena de um casal da belle-époque mostrando toda sua percepção em que vivia no começo do século XX. Entre outras obras. Muitos estudantes e cineastas que já passaram por lá se mobilizaram e fizeram uma página no Orkut de relacionamento, para ser solidário ao filho e mostrar o quanto o trabalho de seu pai é importante para a cultura não só brasileira como internacional por conter grandes obras de artistas renomados e conhecidos mundialmente. Chama-se Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres. “O privilégio de assistir a filmes raros todo sábado às 17:00h, sempre com os comentários do Mestre Lula Cardoso Filho, grande colecionador e estudioso do cinema, que faz com muito carinho a preservação e divulgação de facetas da nossa cultura, através do museu do seu pai, e da cultura da película mundial. Celebremos nessa comunidade este privilégio.” Ivison Galvão, orkuteiro e apreciador do trabalho de Lula. Por não poder ter acesso às salas de arte, à biblioteca e ao cinema, ficou difícil observar o que continha dentro daquela sala em que as luzes encontravam-se acesas. Mas com bastante esforço, consegui observar que havia miniaturas de Charles Chaplin. Em uma pequena janela fora da casa, do lado esquerdo. Perguntei ao meu único anfitrião, o caseiro, que me relatou mais sobre esta sala: “Ali é a sala de cinema, o filme era projetado na parede como era antigamente e lá passavam filmes do cinema mudo.” A sala por fora aparentava ser pequena, mas quando eram exibidos os filmes seus apreciadores não achavam desconforto algum, e sim, um prazer enorme ao assistir os filmes exibidos. A história de Lula Cardoso pai é bastante enriquecedora, ele nasceu em Recife no ano de 1910, onde iniciou seus estudos de desenho e pintura com Heinch Moser. Morou em Paris em 1925. E quando voltou ao Brasil, radicou-se no Rio de Janeiro, tornou-se aluno da Escola Nacional de Belas Artes. Fez cenário para teatro e ilustrações para revistas de época. Quando voltou ao Nordeste, foi ajudar seu pai João Cardoso Ayres, na administração da usina Cucaú. Desenvolveu uma série de estudos sobre trabalhadores do campo. Onde seguiram-se os trabalhos com temas sobre bonecos de barro, figuras do bumba-meu-boi e assombrações. A partir de 1946, graças a uma sequência de exposições realizadas no Recife, em Salvador, no Rio de Janeiro e em São Paulo, a pintura regionalista de Lula começou a obter conhecimento nacional. Seu Filho Lula Cardoso Ayres Filho, junto com sua primeira nora, como esposa de seu filho, Regina Ayres Cardoso Ayres, deram início em 1996 ao Projeto Lula Cardoso Ayres, Vida e Obra, que pretendeu montar 10 exposições de trabalhos do artista, em blocos específicos: Lula, dos estudos e projetos à obra final; Lula e o carnaval de Pernambuco; A fotografia na arte de Lula; O papel na arte de Lula; Lula muralista; Lula programador visual (já apresentadas); Lula e as lendas e assombrações do nosso povo (em cartaz); Lula cenários, decorações e ilustrações (Abril 2007); A arte nas feiras e igrejas vista por Lula (Agosto 2007) e finalizando o projeto A vida no campo vista por Lula (janeiro 2008). Desde 2002, além das mostras paralelas, estão expostas permanentemente 300 obras do acervo do artista, para que o visitante possa ter ideia da variedade de suportes trabalhados por ele. Apesar da boa intenção, seguindo a linha de trabalho de museus dedicados a um só artista, o espaço do Instituto é pequeno para tantas informações. Para efetivar com êxito essa disposição é preciso ampliar as salas de exposição. O trabalho de divulgação dessa parceria, sempre foi importante para o conhecimento cultural das pessoas com relação a este tema. Entretanto, em condições judiciais sobre a posse do acervo para algum deles, fica difícil um novo projeto a ser lançado.
No local existe uma riquíssima cinemateca do país, o cinema mudo e o início do cinema sonoro, catalogando mais de três mil filmes em película, uma fonoteca de 12 mil vinis, muitos deles de trilhas sonoras históricas e dos grandes sucessos do começo do século passado. Onde encontram-se guardados, ali, todos os filmes estrelados e dirigidos por Buster Keaton, cópias raras de filmes de Chaplin, que nem mesmo a sua família possui, como "Busy Day" e "Cruel, Cruel Love", tidos como desaparecidos, entre outros. Por possuir tantas raridades, a cinemateca atraiu muitos amantes da sétima arte, por existir 50 filmes em que os originais só existem lá. Entre tantas outras obras fascinantes, torna-se comovente para os frequentadores aficionados ou futuros apreciadores, manter um instituto tão vasto em riquezas como este fechado por uma grade e um cadeado, sem poder ser apreciado.
Reportagem redigida pela jornalista Clarissa A. Castelo Branco em 03, junho de 2019.
Instituto Lula Cardoso Ayres, Rua Hermínio Alves de Queiroz, 1416, Piedade, Jaboatão dos Guararapes-PE. Fone: 81-33411932. inculca@hotmail.com http://www.lulacardosoayres.com.br
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